PÁSSAROS DE PIRANGI..
Acordar e anoitecer com o canto de diferentes espécies. Que maravilha! No mundo não há nada igual.
Quantas pessoas não gostariam de vivenciar aquele ato maravilhoso? De viver momentos como aqueles, na imensidão daquele pedaço de chão? O Universo inteiro gostaria de ter estado lá para compartilhar daqueles instantes mágicos.
Sagrada Pirangi que viveu a época alegre dos cafezais, arrozais, feijoais, algodoais e milharais onde as rolinhas, as pombas do ar, juritis e amargosas arrulhavam pelos campos. Tinham, ainda, os inhambus, as codornas e as perdizes. Como éramos felizes!
Na época dos grandes pomares de mamão, éramos visitados pelos sanhaços de dorso azul, com reflexos verdes, próximo do azul-turquesa, uma bela cor. Viviam solitários, em casais ou em bandos e adoravam um mamão. Minha casa ficava no meio de uma grande plantação dessa fruta. Naquela fase é que descobri a existência de mamão-fêmea e mamão-macho e quem era quem.
Nos tempos dos grandes laranjais e também dos pés de laranja plantados nos quintais, o sabiá laranjeira desfilava galhardamente por todos os cantos. Cantava antes do amanhecer e no crepúsculo vespertino e é considerada ave símbolo do Brasil. Tem o bico reto de cor amarelo oliva, com penugem de um tom uniforme marrom acinzentado no dorso, com a cor de ferrugem no seu ventre e com seu canto melodioso e aflautado durante o período reprodutivo. Na literatura, é citado como o pássaro que canta o amor e a primavera, as origens, a terra natal, a infância e as coisas boas da vida e na minh’alma é lembrado como a ave que canta minha cidade amada, minha eterna Pirangi, onde docemente vivi.
No perímetro urbano, as andorinhas com beleza, elegância e agilidade em seu vôo e com sua linda cor azul metálica e o peito branco ou castanho cinzento, chegavam todas as tardes em bandos gigantescos e principiavam um barulho ensurdecedor.
Enfeitavam os postes e fios elétricos da Companhia de Força e Luz, bem como as árvores sombrosas como as jaqueiras, mangueiras, abacateiros, e outras.
Na China um casal de andorinhas era símbolo de fidelidade.
Para os persas, era símbolo de solidão e da separação dolorosa.
Na Valônia, situada ao sul da Bélgica e considerada o berço da escrita literária francesa, segundo uma lenda popular, uma andorinha retirou com o bico, um a um, os espinhos que feriam a testa de Jesus Cristo.
Em Pirangi, simbolizava a alegria de viver e o doce cair nostálgico do sol nas tardes de primavera quando eu, silenciosamente balbuciava “O amor é a sublime poesia que sintetiza o eterno num momento”.
Na casa do Sr. Sebastião Bueno de Camargo, “casa dos camargo” ou “casa das camargo”, melhor ainda, “casa onde morei” e fui feliz, a quantidade de pássaros era incontável, inclusive os indescritíveis beija-flores. Lá estavam concentradas quase todas as espécies da região. Era uma casa com quintal repleto de árvores frutíferas e todos da família amavam a natureza.
Ao redor da cidade víamos bem-te-vi, pardal, anu-preto, anu-branco, pássaro preto, curiango, urutau, coleirinha, bigodinho, tesourinha, corruíra, bicudo, canário, urubu, urubu-rei, gavião, tuim, joão- de- barro, joão bobo, coruja, fogo-pagou ou fogo-pagô, pintassilgo, azulão, tico-tico, tiziu de cor preto azulado brilhante (conhecido como pássaro pretinho). O tiziu toda vez que cantava, dava um salto vertical e caia no mesmo lugar. Viam-se, também, alguns tucanos e pica-paus.
Existia uma grande quantidade da chamada pomba-comum ou pomba-doméstica com uma enorme variação no padrão de cores. Há imagens datadas de 4.500 a.C., que as representam.
Ao entardecer um bando de maritacas, que pareciam estar loucas, pousavam na copa das árvores das pequenas florestas da zona rural, fazendo uma barulheira que ecoava na mata inteira. No pouso da ramagem superior das árvores de grande porte da cidade era a mesma coisa.
Os periquitinhos verdes faziam sua revoada e pousavam nas árvores dos jardins da cidade para pernoitarem.
Ao raiar a luz do dia, Pirangi parecia uma “Torre de Babel”, cada bando cantava a sua canção e, juntos, formavam uma orquestra que agradava todo mundo.
Como eram lindas as manhãs e o entardecer da primavera, onde as plantas coloriam toda a natureza e os pássaros canoros com seus acordes divinos produziam melodias maravilhosas para, de forma suave, encantar nossos ouvidos.
Nossos olhares brilhavam e nossos lábios sorriam com a harmonia do recanto querido, quando os pássaros fendiam os ares, indo para lá e para cá, num frenesi delicioso e no tempo da florada das plantas dos jardins e dos campos da nossa bela cidade.
Para quem vivenciou as décadas de “50” e “60” é realmente emocionante poder ouvir falar ou ler a respeito da cidade de Pirangi. Conversar com amigos daqueles tempos, reconhecê-los e rememorar com saudades tudo aquilo. Lembrar de gente que já se foi, gente ainda viva e que jamais poderíamos imaginar ver novamente na vida e que lá estão para nos contar tudo a respeito dos cafezais, pomares de mamão, laranjais, dos pássaros, dos peixes, dos rios e principalmente das pessoas daqueles tempos imorredouros.
A cidade de Pirangi, terra amada por todos lá nascidos e por todos que lá viveram ou que por lá passaram. Sempre se destacou pela beleza, hospitalidade, suas riquezas e por ter um povo ordeiro e trabalhador. Tornou-se conhecida, mundo afora, pela ternura de seus filhos ilustres que gritaram seu nome com orgulho e muita bravura.
Alberto Gabriel Bianchi – janeiro de 2013
Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura, da Academia Rio-Pretense Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Internacional de Letras de Lisboa.