quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Alberto Gabriel Bianchi - "DIÁRIO DE UM FRUSTRADO"

DIÁRIO DE UM FRUSTRADO

Reunião na casa do Jairo Alves de Mello, um grande amigo, pessoa muito séria, muito exigente. Um dia maravilhoso, uma confraternização saudável entre amigos, num lugar muito agradável. Estavam o Jairo, Ivonilda, Denise, José Carlos Del Campo, Mariângela, Eu, Olinda, Symara e Beto.

Conversas e histórias alegres.

Alguém se lembrou de um lugar divino, “Riviera do Aracanguá”, ou Recanto do Aracanguá, comentando os momentos deliciosos que lá já passamos.

Vamos marcar de novo, uma data, para que possamos nos reunir naquele lugar indescritível? Comentou alguém...

Todos disseram....vamos...a idéia é excelente!!!

Pegou-se um calendário, olhou-se a melhor data e pronto....Todos concordaram com o dia 12 de outubro de 2.001. Está marcado...

Comecei a fazer a contagem regressiva. A ansiedade tornou-se minha companheira.

Contava os dias e as horas.

Vinte dias antes do passeio, arrumei minha mala. Lá em casa chamam-na de “ônibus” em função do seu tamanho. Dentro coloquei lençol, travesseiro, toalhas, salva-vidas, botina, chinelo, material de pesca, etc. No dia da sonhada viagem seria só colocar sabonete, pasta, escova dental, etc.

No dia seguinte, um novo encontro com o Jairo, Ivonilda, Denise, Del Campo, Mariângela, Eu, Olinda e Symara. Como sempre um ambiente de pura alegria e grandes histórias.

De repente começamos a falar do tão esperado dia 12 de outubro. Del Campo disse que iríamos no dia onze. Fiquei feliz e me comprometi ir junto com ele e a Mariângela.

Jairo disse que não poderia ir mais na data marcada. Tinha um compromisso com a família da Ivonilda em Sorocaba. Havia esquecido daquele compromisso, o que é normal para ele. Ficamos chateados, porém, nada a fazer....

Pediu para que cancelássemos o passeio. Explicamos ser impossível, uma vez que estava tudo marcado e organizado. Não tinha outra data possível neste ano.

A fazenda é de um Lord britânico e muito concorrida, principalmente nos fins de semanas prolongados.

Começou, então, a rogar pragas. Estaria torcendo para chover muito, o que não nos perturbou. Ai apelou, dizendo que iríamos todos morrer nas estradas ou lá no recanto, uma vez que cairiam raios violentos carbonizando a todos.

O tempo foi passando e a razão se clareando e eu em todos acreditando. Seriam dias memoráveis. Cada vez mais e mais ia me preparando, me concentrando. Queria um passeio feliz, cheio de alegria e de grandes emoções e não de perturbações ou mau agouro por parte daquele que estava com ciúmes.

Na Segunda-feira, dia primeiro de outubro, Del Campo me consultou se seria possível a Mariângela ir na Sexta-feira, junto com meus familiares. Informei que se meu primo de Cajamar não viesse claro que sim.

Um sábado anterior ao dia radiante, onde nossos corações estariam palpitantes e nossas mentes reluzentes de felicidades, fomos a um almoço feito pelo Mestre Cuca, José Francisco Rodrigues Cançado. Um peixe delicioso, como sempre. É a especialidade do Grande Chico. Almoço de muita alegria. Estavam lá pessoas agradáveis e o convívio familiar foi em grande estilo.

Começamos a lembrar, o que seria inevitável, de como seriam nossos dias na “Riviera do Aracanguá”. Precisamos organizar o cardápio, disse o Del Campo. Vamos começar já, disse eu. Que tal um bacalhau na Sexta-feira. Mariângela disse: podemos fazer uma massa no almoço do sábado, uma canja à noite e no domingo, um frango com polenta. Del Campo emendou: e um churrasco na noite de sexta-feira. Tudo combinado. Vamos organizar o que conversamos e fazer as compras durante a semana. Precisamos escrever as quantidades dos ingredientes.

Naquela mesma noite comecei a escrever o que combinamos para facilitar as compras. Organizei o cardápio no papel, que ficou assim:
RIVIERA DO ARACANGUÁ – CARDÁPIO

Quinta-feira à noite: BIFE ACEBOLADO

Contra Filé (nove bifes no capricho), cebola, manteiga, azeite, arroz.
Sexta-feira almoço: BACALHAU

2 kg. de Bacalhau, azeite, azeitonas pretas, pimentão, batatas, cenoura, couve, tomate, cebola, alho, cheiro verde.
Sexta feira jantar: CHURRASCO

Picanha, fraldinha, linguiça, frango (sobre coxa e asa) sal grosso ou fino.

Sábado almoço: MASSAS (MACARRÃO, NHOQUE)

Molho vermelho, carne moída, tomate, tomato ou extrato de tomate, cebola, alho, cheiro verde.
Sábado jantar: CANJA

Arroz, frango, etc.
Domingo almoço: FRANGO COM POLENTA

Coxa, sobrecoxa, polentina, manteiga ou margarina, vinagre ou azeite, tempero completo, arroz, etc.
CAFÉ DA MANHÃ:

Leite, pão, queijo, manteiga, margarina, presunto, chouriço, café, abacaxi, maçã, mamão, melancia, manga, uva, pêra e banana.
Para todos os dias: ÁGUA
Tirei cópias do cardápio todo entusiasmado para mostrar ao Del Campo e Mariângela, na segunda-feira.

Para minha surpresa, segunda-feira na hora do almoço, Mariângela telefonou dizendo que estava com problemas no seu trabalho e que ficaria difícil a viagem naquele final de semana. Perguntou-me, se não era possível cancelar e marcar outra data. Respondi que cancelar talvez fosse possível, porém, marcar outra data seria quase impossível. Então vamos cancelar. Dei a notícia em casa e especialmente para o Beto que havia assumido o compromisso em relação ao Recanto. Mariângela e todos de casa, talvez estivessem preocupados com as pragas do Jairo. Me perguntaram: e se acontecer alguma desgraça? É melhor cancelarmos mesmo. Praga pega...É bom não abusar....

Diante de tal situação o mundo escureceu e meu coração emudeceu. Sonhava com aquele dia, sonhava com aqueles momentos. Sou apaixonado pela Natureza e não queria ficar frustrado. O encanto parecia acabado e sobre mim o mundo desabado.

Trocaria qualquer passeio para estar à beira de um rio, num remanso, junto à florestas ou lindas vegetações rasteiras. Ali ficaria minha vida inteira. Sonharia com evoluções mentais sem franzir a testa e em total descanso.

Fiquei totalmente desiludido.

Ativei minha imaginação para sair desta grande insatisfação.

Acordei na sexta-feira, dia 12 de outubro e como que, num passe de mágica, minha mente via na frente um rio, um lindo remanso, árvores, uma revoada de pássaros todos alegres a cantar e no céu a deslizar mansamente, num suave passeio sem fim. Entrei nesse sonho, embalei-me num mundo de alucinações e comecei a cantar junto com a passarada.

Corri para a cozinha, apanhei as frutas e organizei uma linda e atraente mesa para o café da manhã. Pensei - daqui pouco todos se levantarão da cama e estarão com fome – e assim procedi.

Enfeitei uma melancia da forma mais bela possível e coloquei no centro da mesa. Depois cortei o abacaxi, as pêras, as maçãs, o mamão, mangas, bananas e distribuí numa travessa com uma disposição multicolorida, bem alegre e agradável e coloquei na mesa à frente da melancia toda imponente. Sucos coloridos: melancia, mamão e abacaxi. Em seguida coloquei frutas inteiras esparsas pela mesa, o queijo, presunto, chouriço, manteiga, margarina, pão e leite. Finalmente fiz o tradicional cafezinho e deixei sobre a mesa farta.

Aos poucos todos foram acordando, lavando o rosto, escovando os dentes e se perfumando. Daí a pouco, diante da mesa, foram se fartando como se fosse uma ceia, a ceia dos grandes encontros.

Primeira fase concluída. Os amigos foram dar um passeio, fazer caminhada, saborear o frescor da manhã na roça diante da mãe Natureza.

Continuei sozinho imaginando estar diante da divinal obra do Pai Celestial.

Comecei a preparar o almoço programado, um Bacalhau.

Não sei se por estar feliz e num dos altares do mundo, minha inspiração foi tão grande que nunca na minha vida cozinhei um Bacalhau tão saboroso e com tanta fartura para alegrar a moçada. Todos comeram e ficaram felizes pela satisfação daquela metade do dia. Muita coisa maravilhosa ainda estava por acontecer.

Cumprindo o ritual idealizado, no jantar, não o churrasco, mas estavam na mesa todos os ingredientes do café da manhã e o bacalhau que sobrara em quantidade e continuava saboroso.

Na noite fresca e encantadora, bate papos e momentos de reflexão.

No dia seguinte, mesa enfeitada, pássaros engalanados entoando a doce melodia do amanhecer, o Hino da Pura Natureza. A alegria dos pássaros contagiava a todos que sorriam alegremente por mais um dia num lugar ardente como o sol.

Hora do almoço, Nhoque com molho vermelho. Que delícia!!!

A noite, na hora da festa, alegria inconteste, mais um dia de muita harmonia.

Não preparei a canja, muito Nhoque e frango haviam sobrado e como complemento fiz sopa com picanha e uma sopa com frango caipira.

Finalmente o domingo, último dia na convivência daquele paraíso monumental, uma beleza divinal que jamais se esquecerá.

De manhã, bem cedinho, mesa arrumada esperando pela moçada. Era a despedida.

Euforia!!! Palavras como: que pena..., tudo que é bom dura pouco, não quero ir embora, vamos voltar logo o lugar é fora de série.

Hora do almoço, Frango com Polenta e molho vermelho, tudo bem preparadinho para boa impressão ficar, e daquele lugar ninguém jamais esquecer e que no alvorecer de novos dias se idealize passeios como esse, porém com todo interesse e muito carinho.

Depois de toda esta alegria parei e de repente acordei. Estava no aconchego do meu lar que, também, adoro tanto. Não estava no Recanto do Aracanguá, estava em São José do Rio Preto na minha casa e na cozinha, fazendo todos aqueles deliciosos pratos como se lá estivesse junto de meus amigos. Minha família adorou, é claro.

E eu? Eu fiquei frustrado, desiludido e meio perdido até que caí na verdade do mundo. Preciso continuar, uma vez que estou nesta vida para submeter minha vontade e viver a doce realidade.

São José do Rio Preto, 14 de outubro de 2.001- Fim do passeio que não houve.
Alberto Gabriel Bianchi – Membro da Academia Rio-Pretense Maçônica de Letras, da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura e da Academia Maçônica Internacional de Letras de Lisboa.







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