quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Alberto Gabriel Bianchi - "PIRANGI"

Pirangi


Amo a Deus, todos os seres humanos e toda a natureza. Amo a beleza de viver e o doce sabor do querer.

Amo este mundo ainda cheio de mistérios, como os segredos de um monastério ou os assombros de um templo sagrado, por mim ainda não visitado.

Amo Pirangi, que traz grandes recordações da minha infância e parte da minha juventude. Pirangi das noites enluaradas e que deixava as matas prateadas rebrilhando na amplidão.

Nos campos verdejantes, no matagal, nos lagos e riachos, os pássaros cantavam e eu me apaixonava cada vez mais. Relembro comovido os tempos lá vividos, os dias alegres que lá passei. Tenho muita paixão e profundo respeito por tamanha maravilha e pela paisagem mística que lá existia. Sua imagem é símbolo de pureza e encantamento e que não sai do meu pensamento.

Venho declarar ao mundo inteiro que minha vida foi muito feliz, mesmo diante de tantas adversidades. Foi muito suave e florida, apesar de todos os espinhos.

Tive uma infância alegre e cheia de carinho, uma adolescência plena de felicidade e aos poucos vou realizando todos os meus sonhos.

Neste mundo venusto ninguém vive mais feliz e sem susto do que eu e, a alegria que existe no meu peito, transborda quanto mais o tempo passa. E no leito da estrada da minha vida vou cantando alegremente.

Queria que nesta terra, todos amassem a todos sem guerra.

Nos velhos tempos de venturas e desventuras gritava ao mundo inteiro que viver é maravilhoso. Viver tendo um lar cheio de simplicidade e muito amor é algo venturoso.

Tenho no íntimo, minha história para contar. Uma história de encantos e de alegria por todos os cantos. Sei que talvez seja um peregrino sonhador que vive a harmonia do sublime e desperta com poesias a flutuar no ar, para não sofrer as torturas do mundo e do olhar maligno daqueles que só nos querem magoar. Sozinho, viajei pela vida lutando desesperado com a fé que nos dá o amor e a força do trabalho que nos dá todo valor.

Vivi a doçura e o amargor da vida. Vivi a dor e o prazer. Senti todos os sabores e dissabores para que pudesse valorizar e comparar as ações do ato de viver. Errei muito e aprendi. Por isso é que afirmo que fui feliz, tive os maiores prazeres possíveis e os vivi intensamente.

Amo Pirangi de todas as formas e com todas as forças. Amo com todas as emoções e, também, com devoção.

Morei na roça onde diziam que eu era capiau ou jacu. Lá fazia muitas peraltices, corria pelas matas atrás de uma fruta, mergulhava nos rios e riachos para me refrescar, via as aves revoando os céus no amanhecer e no entardecer levando o amor para povoar a mente do sertanejo. Depois fui para a cidade e de lá me mandaram para São Paulo, a grande metrópole e, com saudade de Pirangi muito sofri e nada contente, fiquei doente sem ter doença aparente.

Fiz muita coisa boa pela vida. Andei a cavalo, em pelo, com focinheira e com “sorfete”, pelas campinas. Montei em cavalo arreado e passeava pela cidade com todo cuidado. Andei de carroça, carroção de bois, de charrete, trole, bicicleta, trator, Ford 29, jardineira, caminhão e carrinho de rolimã. Andei de bonde, trem e ônibus urbano e de alto luxo. Naveguei de piroga, barco a remo e com motor, de lancha, iate e navio. Também viajei, muito de avião.

Conheci rios, florestas, desertos, montanhas. Senti o frescor da Serra de Monte Alto, do Mar, da Mantiqueira, da Cantareira, dos Andes, dos Alpes Suíços e dos Apeninos, na Itália.

Dancei ao som de grandes orquestras no Clube de Pirangi, no Fazendinha, no Palácio de Mármore, Pinheiros, Paulistano, no Palácio de Versalles, Casa de Portugal, dancei em Viena, Alemanha e em Roma e muitos outros lugares lindos. Dancei Tango em Buenos Aires, Polka na Alemanha, Can-Can na França e Tarantela na Itália. Dancei ao som das vitrolas nos bailinhos realizados nos fins de semana na casa de muitos amigos e amigas. Dancei ao som de violas, violão, harpas e ao som das sanfonas de 80 e 120 baixos em terreiros de café das fazendas de Pirangi e região.

Plantei muitas árvores, escrevi alguns livros, muitas poesias e tenho três filhos. Sinto-me plenamente realizado. Talvez queira ser aquilo que não sou. Talvez seja aquilo que não sei, mas ainda quero ser.

Ah, como ainda amo Pirangi!

Alberto Gabriel Bianchi – 28 de janeiro de 2009.

Membro da Academia Rio-Pretense de Letras e Cultura e da Academia Maçônica Internacional de Letras de Lisboa.



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