terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Alberto Gabriel Bianchi - LAGOA AZUL DOS LORENÇATTO'S E OS MOLEQUES SAPECAS



“LAGOA AZUL DOS LOURENÇATTO’S E OS MOLEQUES SAPECAS”



Década de “50”. Eu ainda muito menino e já arteiro como todo bom moleque.

Minha vontade de aprender a nadar era algo desesperador.

Os meninos de Pirangi diziam que para aprender a nadar era preciso engolir lambaris vivos.

Morava na casa da minha tia Maria Arroyo nas proximidades do Córrego Bela Vista, onde pescava com peneira e escolhia os lambaris pequeninos para não engasgar.

Do outro lado do rio ficava a propriedade do Sr. João Lourençatto, filho de Mansuetto Lourençatto (daí dizermos na época: vamos à fazenda do Mansuetto!) e Aldomira Bobatto Lourençatto.

João era um senhor respeitado por todas as famílias pirangienses. Era dedicado ao trabalho, fazendeiro próspero e tinha atividades sociais intensas. Casado com Dona Mileide Vidotti Lourençatto, também, dedicada a atividades sociais e de benemerência, especialmente fazendo parte do Grupo de Voluntários do Hospital do Câncer de Barretos.

Na sua propriedade existia uma lagoa pequenina, aonde, os meninos iam para aprender a nadar. Uma verdadeira poça de água, conhecida como piscininha ou tanque, cheia de raízes ao seu redor, o que facilitava o aprendizado. Segurávamos nas suas raízes com as mãos e batíamos os pés até conseguir o equilíbrio. Soltando o corpo afundávamos como pedras. De tanto exercitar conseguíamos fazer o corpo inteiro flutuar e na sequência treinávamos o que se chamava de “nado cachorrinho”. Desta forma tornávamo-nos nadadores e aí sai de baixo... O mundo era pequeno...

Primeiro treino com “sábios nadadores” era ir para um lugar divino e saltar como aves, da cachoeira da chamada “Lagoa Azul”, deslumbrante e de águas cristalinas que ficava, também, na propriedade do Sr. João Lourençatto, já mais próxima da sede da fazenda. Íamos pela rua da venda do Sr. Domingos Garilho, pois tinha uma estrada melhor para se andar.

Para concluir a história da natação, o terceiro teste era feito no Rio Tabarana, que naquela época tinha correnteza e lugares que não “davam pé”, de tão fundo. Era possível pular do alto da ponte e não alcançar o chão. Lá íamos nós, um bando de moleques que demonstravam capacidade e muita vontade.

Quando os meninos mais velhos (nossos observadores) achavam que já tínhamos condições de nadar, o teste final era feito no “Poção do Rio Turvo”, à direita da ponte que ficava na estrada velha Pirangi – Bebedouro. Lá jogavam os meninos, um por um, dentro d’água que eram obrigados a atravessar o rio a nado. Caso chegassem à outra margem e retornassem sem ajuda, eram proclamados nadadores.

Aí passávamos a convier com turma dos chamados “marmanjos”.

Voltando a falar do Sr. João Lourençatto, vamos contar o pior ou o mais interessante.

Aprender a nadar, foi muito bom, muito gostoso. Particularmente, valeu à pena, pois nadei em todas as piscinas que vi pela frente. Contei esta história ao mundo inteiro e, todos acharam interessante, diferente e divertida. Riam sem parar.

O mais engraçado e terrível, vou revelar agora: Nós nadávamos pelados. É..., para não chegarmos em casa com a roupa molhada e apanharmos das nossas mamães. Elas não tinham a mínima idéia das artes que fazíamos por aqueles rios. Tinham medo e com razão, de que o pior acontecesse, uma vez que temos algumas histórias trágicas. Tivemos sorte e estamos aqui vivos, para contar.

Enquanto tudo corria bem, evitávamos a surra, uma vez que chegávamos vestidos. Minha mãe tinha o hábito de, com as suas unhas, riscar a minha perna. Se a pele escamasse ficando esbranquiçada era surra na certa. Aprendi a me defender correndo para o banheiro com a desculpa de lavar os pés ou então enfiando as pernas numa bacia ou lata de água.

Ocorre que o Senhor João Lourençatto, danado que era, queria judiar dos aprendizes de natação e resolveu esconder nossas roupas enquanto nadávamos na lagoa. Aí era um pandemônio. Ninguém sabia o que fazer e nem quem havia roubado nossas roupas. Sempre acusávamos outros moleques. O duro era voltar a pé e sem roupa. Tudo bem que Pirangi era uma cidade muito pequena (1957/1958) e podíamos desviar das pessoas ou aguardar o escurecer. O problema sério era enfrentar nossas mães pelados.

Eu chegava nas proximidades de casa e ficava esperando uma oportunidade para entrar, quando meus pais iam para a porta da frente prosear. Entrava pela porta dos fundos e corria sorrateiramente pegar uma roupa e tomava banho correndo (chamado banho de gato) na bacia para ninguém perceber nada e voltava todo sorridente pela porta de entrada.

Um belo dia cheguei em casa e fiz toda essa artimanha de esperar que eles fossem para a soleira da porta e depois entrar escondido.

A hora que apareci todo faceiro e sorridente diante deles, certo de que tudo estava “nos conforme”, onde eles conversavam, minha mãe pegou na minha mão e deu tamanha surra que nunca mais esqueci. Aí com aquela cara de inocente perguntei: Porque estou apanhando, não fiz nada? Minha mãe mostrou-me as roupas e disse: o que você foi fazer na lagoa azul, na fazenda dos Lourençatto? Foi nadar né... e toma mais chinelada. Depois fui dormir. O que mais poderia fazer ou falar?

Fomos mais vezes nadar nas terras do Sr. Lourençatto e ele tornou a fazer a mesma coisa. Pegar nossa roupa e levar para os nossos pais. O que nós não sabíamos é que sua mãe a Senhora Aldomira, também, escondia nossas roupas e morria de rir com o nosso desespero. Isso eu não sabia: o Sr. João Lourençatto e Dona Mileide me contaram por esses dias (novembro de 2012), na festa de aniversário da nossa querida Ineh Bueno Camargo.

Até que um dia aprendemos tirar as roupas e escondê-las, enterrando-as ou subindo em alguma árvore e deixando bem no alto, fora do alcance dele, apesar de seus longos braços.

No final todos nós gostávamos muito dele, uma vez que, nas festas de Santo Antonio, realizadas todos os anos no mês de junho, o Sr. Lourençatto não perdia nenhuma, era o único a conseguir argolar as garrafas e ganhar todos os brinquedos nas barracas de presentes, pelos seus braços compridos. Ele colocava as argolas com as mãos e dava os brinquedos para seus filhos e para nós, que ficávamos ao seu lado perturbando e pedindo.

Hoje tenho a felicidade de ser muito amigo e irmão do seu filho, o Wilson Aparecido Lourençato e sua esposa, a sua nora Ana Rosa Ferreira Lorençato que moram em São José do Rio Preto e pelos quais tenho muita admiração e conto estas histórias de Pirangi, com alegria e muita saudade.

Contei para eles que outro dia comprei cem gramas de manteiga, duas xícaras de chá de açúcar, duas xícaras de farinha de trigo, três ovos, uma xícara de maisena, um vidro de leite de coco e uma colher de sopa de fermento em pó. Bati a manteiga com o açúcar e as gemas. Peneirei os ingredientes secos a fui juntando o creme, alternando com leite de coco. Depois bati as claras em neve e misturei levemente e depois levei para assar em forma untada e deixei por uns quarenta minutos. Sabem o que aconteceu? Saiu um delicioso “Bolo Fofinho” igual ao que a Dona Mileide faz (só podia... a receita é dela). Comi como um louco e não ofereci prá ninguém.



Alberto Gabriel Bianchi – Membro da Academia Rio-Pretense Maçônica de Letras, Academia Maçônica Internacional de Letras de Lisboa, e Academia Rio-pretense de Letras e Cultura.





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