terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Alberto Gabriel Bianchi - "PESCARIA"

PESCARIA


Dourado
Sempre gostei de pescarias. Minha maior alegria era estar pescando.

Morei muitos anos na linda cidade de Pirangi, minha cidade do coração, onde, criança feliz eu vivi. Muito cedo aprendi a pescar com peneira nos pequenos riachos da região como no sitio baixadão que era do meu avô Alberto Bianchi; na Fazenda Canteiro, sitio do meu tio Benjamim Castro, no Córrego Boa Vista que fica nos fundos da chácara da minha tia Maria Arroyo.

Pescava traíra no sitio do Sr. Labela, perto do antigo matadouro, no meio de um brejão repleto de taboas, em poços pequenos que lá se formavam. Certa vez caí num daqueles buracos cheios de água e subi com uma traíra nas mãos. Prá quê? Esparramaram por toda cidade que havia mergulhado e pego um peixe com as mãos. Os antigos ainda se lembram dessa história. Depois aprendi a pescar no rio Tabarana que infelizmente, uma pena, que quase se acabou. Um lugar maravilhoso, um paraíso todo cercado de árvores lindas e sombrosas, de águas cristalinas e frescas e era muito piscoso. Fazíamos piqueniques com a família Camargo, especialmente quando as “Camargo”(Ineh e Iseh) que moravam fora chegavam à cidade. Recanto formoso e espiritualmente atraente que nunca esquecerei. Hoje, praticamente acabou o encanto daquele lugar. Só saudades. Por isso sou a favor de uma luta mais dura em favor do meio ambiente e tenho um exemplo real e vivido que é a destruição do rio Tabarana, um crime pavoroso, cometido contra a natureza.

Logo em seguida comecei a pescar no rio Turvo, outro lugar deslumbrante. Águas turvas e com muita correnteza. Um rio muito perigoso para as crianças que lá nadavam e eu, era uma delas. Muitas espécies de peixes. Dava gosto pescar naquele rio. O incomodo era que os pernilongos atacavam sem dó, nem piedade. O tal de mosquito pólvora(ou “porva” como o chamávamos) era e, talvez, ainda seja um terror. Os braços ficavam pretinhos, como carvão e era quase impossível ficar parado no mesmo lugar. Quantas vezes saí correndo e fui embora prá cidade, sem parar.

Depois das delicias dos rios de Pirangi, fui para São Paulo. Lá pescava na represa Billings e andei pescando no rio Tiete, quem diria!

Alguns anos mais tarde comecei a pescar em rios maiores e mais caudalosos, como o rio Grande, Paraná, Araguaia, São Francisco, Paraguai e tantos outros.

Já vi e vivi de tudo. Tive até a fama de pegar um peixe, num mergulho, com as mãos e não é história de pescador não! Tenho testemunha, ainda viva, e que presenciou tal façanha. Um dia revelarei toda a verdade dos fatos.

Agora, a história mais interessante e doida que já vi, vou contar, ou melhor, escrever:

Morava em Marília e vinha sempre para Pirangi. Ficava na casa do João Aparecido e da Labibe Inês Pitelli Ferraz de Arruda. O João adorava praticar a pesca. Pesquei lambaris e tambiús no rio Turvo, Tabarana e Ribeirão da Onça e, pegava bastante. Gostava deles fritos. Uma delícia com cerveja. Agora, o João, pegava estes peixes em grandes quantidades, vários quilos. De balaio, como se dizia. Acho que só perdia para o Ileh Camargo. O problema era chegar em casa com os mesmos, sem limpar. Ah, era bronca na certa! Fazia muita sujeira. As mulheres não gostavam nenhum pouco. Ficavam bicudas. Começamos a limpá-los na beira dos rios para chegarmos em casa e fritá-los. Era outra bronca, pela gordura que ficava impregnada no fogão, só que era mais suave, uma vez que comer, elas adoravam. Nada bobas né!

O João tinha até um rancho à beira do rio Turvo, onde se pescava Dourados, Piaparas e Curimbatás em grande escala. Para que se tenha uma idéia, quando ele pegava uma Piapara ou um Dourado, tremia tanto que parecia estar com malária ou na Sibéria. Era a chamada “violenta emoção” e que contagiava todos que estavam por perto dele.

Pescamos vários Dourados no Rio Paraná. Eram peixes com mais de dez quilos cada um (êta história boa de pescador!). O João tremia que balançava tudo, parecia um Ford velho e, às vezes, precisava tomar calmante, ou tomar umas..., o que ele preferia, com certeza. Não me lembro qual de nós dois caiu do barco e se esborrachou nas correntezas do rio Paraná quando o João fisgou um baita Dourado que saltava como doido. Que susto! Estamos vivos, ainda bem!

Vamos, então, a maior loucura do João Ferraz.

Nas pescarias, que foram muitas, no rancho do rio Turvo, que ficava na margem oposta à Irupi(cidade extinta), logo depois da ponte sobre o rio, na estrada de Paraíso à Monte Azul Paulista. Pegávamos Curimbatás em profusão. O saudoso Senhor Jerominho (pai do João) era o rei da pesca do Curimbatá. Nunca vi tanto em toda minha vida e só se conseguia pescá-los quando a isca era “fígado bovino”. Eu adorava pescar Piapara para fazer “sashimi”. O João gostava de pescar Dourado e pegava bastante. Toda semana saboreávamos carne de Dourado, principalmente assado e recheado.

Pasmem, era comum o João, pular dentro d’água e, no tapa, pegar aquele Dourado que ficava enroscado na galhada.

Numa das pescarias, no rio Turvo, ele fisgou um dourado gigantesco que estava dando muito trabalho dentro d’água e não conseguia tirá-lo de jeito nenhum. Como o peixe corria toda hora para os galhos caídos no meio do rio, ficou com medo de perdê-lo e ao forçar a situação, soltou a linha de pesca. Gritou um tremendo palavrão e pulou na água. Uma batalha de gigantes. Eu só via aquele brilho amarelo me ofuscar toda hora, pulando pro ar e se batendo. João conseguiu pegar a linha e chegar perto do baita. Enfiou as mãos pelas guelras e dominou o bicho valente. Nadou até as margens e atirou o dourado com toda a força para o barranco. Virou de costas para lavar as mãos e o danado pulou dentro da água novamente. João, como um corisco ou como um raio pulou para cima do peixe e o apanhou novamente. Gritei lá de fora: cuidado ele vai arrancar o seu braço com uma mordida! João não estava nem aí com minhas palavras de desespero. Acredito que nem me escutava.

Conseguiu dominar a fera mais uma vez e trouxe o danado para terra firme e com segurança. Adivinhe o final. Assou o peixe e comemos deliciosamente como se tivéssemos vencidos o campeonato mundial de pesca.

É ou não é, uma aventura inesquecível e interessante?

Alberto Gabriel Bianchi – 01 de maio de 2012. Dia do Trabalho.



Um comentário:

Unknown disse...

Olá Alberto,

Pore gentileza, o seu avô era Alberto QUATRINI Bianchi?

Abraços